11 de fevereiro de 2010

Como em um livro infantil

Um dia, a gente aprende que há preto e branco e esquece as outras cores do arco-íris.
Aprende que há alto e o baixo e esquece que há também o médio e há quem possa voar...
Um dia agente aprende que há gordo e magro, e o curto e o comprido, e o novo e o velho e o com-brilho e o sem-brilho;
E esquece que entre as pontas há muitas outras combinações possíveis pois a vida rima com variedade e um mundo só de gente espelhada ia ser mesmo uma roubada!
Um dia agente aprende conceitos e às vezes os transforma em preconceitos, e passa a julgar, a classificar, a apontar as pessoas; passa a olhar algumas pessoas de cima, e outras, de lado; passa a não querer escutar alguns e deixa de falar com outros.
E assim como os macaquinhos que tampam os olhos, a boca e os ouvidos, a gente não vê, não ouve, não vive de verdade o mundo em volta.
Um dia agente aprende que a família é “pai + mãe + criança” e deixa de observar que há muitas, muitas outras combinações possíveis.
A gente aprende que o amor é “homem + mulher” e esquece que podem haver outras, muitas outras formas de amar e de amor.
Um dia, a gente descobre que o muno inteiro é inventado, e que o preconceito é uma jaula que prende o amor. Se a gente fanático por um time, perde a paixão pelo futebol. Se a gente acredita que só o nosso Deus é o verdadeiro, esquece que Ele tem muitas moradas.
Crescer é descobrir que há vários modos de se caminhar pelo mundo e que todos valem a pena!
Crescer é descobrir como conversar com VÁRIOS tipos de amigos.
Crescer é descobrir que as pessoas vêm em cascas de todas as cores; que um mundo só de cascas pretas, brancas ou amarelas seria muito chato; e que só juntas todas as cascas podem formar um mundo completo e colorido!
Crescer é descobrir que em cada época havia um bonito e uma bonita diferentes. Que dentes pintados de preto e perucas pintadas de branco já foram as coisas mais bonitas do mundo! E que cada povo tem seus bonitões e bonitonas.
Crescer é descobrir que em cada idade se pode ser bonito, e que a verdadeira beleza não se reflete no espelho.
Crescer é descobrir que a gente pode ser diferente. Que a gente pode ser de qualquer cor. É escolher usar brincos, ou não; é escolher ter tatuagens e piercings, ou não; é saber que somos mais do que nossa aparência.
Não precisamos ser o sonho que a mãe sonhou, ou o sonho que o pai, o avô, a professora, ou até a TV sonhou pra gente.
Podemos ser cada um o seu próprio sonho que vamos sonhando, cada dia um pouquinho e cada dia diferente.
E todo dia temos a liberdade de mudar uma coisa, grande ou pequena, em nossa história.
Crescer é aprender a respeitar a nós mesmos e aos outros, a nossa história e a histórias dos outros, os nossos sonhos e os sonhos dos outros.
Crescer é aprender a respeitar as cores, outros credos, outras necessidades, aqueles que são muito diferentes de nós, mas que, igual a nós, se não há comida, há fome, se não há aguá, sentem sede, se faz frio, tremem, se estão tristes, choram.
Crescer é aprender a compartilhar a dor do outro, é ter compaixão e tentar ajudar.
Crescer é ser um pouco como os Drummonds, que inventam mundos e assim inspiram a desenhar nosso próprio desenho, único, diferente, sem cópia carbono, profundamente Original.

                                 Diferentes (Liana Leão) Adaptado 

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